07 abril 2010

Sentindo que o meu tempo está passando, e que preciso deixar para a minha família um pouco da minha história, resolvi escrever este blog "Uma vida de lutas, derrotas e vitórias".

Peço aos leitores que tenham paciência comigo, pois procurarei expressar todo o meu sentimento como filho, esposo, pai e avô.

Terminada a 2ª Guerra Mundial, meu pai Cabo Leite foi desligado das fileiras do Exército e foi trabalhar na Estrada de Ferro Central do Brasil, e depois ingressou na Força Pública do Estado de São Paulo. Eram dias difíceis os anos pós guerra e meu pai arrendou umas terras em Pindamonhangaba para poder plantar e melhorar os seus rendimentos. Me lembro bem dessas terras, elas abrangem uma boa parte do Jd Bela Vista, onde hoje fica o Hospital Frei Galvão em Pindamonhangaba.

Ali cresci numa casa de pau-a-pique e na terra preta chamada "tufa" dei os meus primeiros passos.

Conheci um soldado do exército, quando meu pai vendeu abóbora madura para o batalhão e veio um caminhão [GMC] com alguns soldados buscar a mercadoria. Foi uma festa, ver aqueles homens fardados. Pensei comigo algum dia serei como um deles.

Minha história começa a ser interessante desde o meu nascimento ocorrido no dia 19 de outubro de 1948, na Santa Casa de Misericórdia de Pindamonhangaba. Nasci Morto!
Minha mãe Dona Cida [Maria Moreira da Silva], muito devota da santa de Aparecida do Norte adotara o apelido de "Dona Cida" muito católica e preocupado com a minha situação, pediu que as freiras dessem um geito e me batizassem pois não queria que o seu filho fôsse direto para o inferno por não estar batizado.
As freiras para fazer a vontade da minha mãe me levaram então para ser batizado e por decisão da minha mãe receberia o nome do santo do dia S Pedro de Alcantara.
Dizia a minha mãe que quando na Pia Batismal me jogaram água sobre a cabeça inerte eu dei um pulo e comecei a chorar. Foi um tremendo susto para todos que ali estavam e gritavam um milagre. Por decisão das freiras, meu nome foi mudado para Moisés [Salvo pelas águas] porque na Bíblia Sagrada existe a história de um Profeta que foi salvo pelas águas e recebeu esse nome.
Minha mãe dizia que se alegrou muito, pois o avô dela também tinha esse nome. E as freiras disseram para minha mãe que Deus tinha planos na minha vida e que eu seria padre, pois estando morto voltei a viver. Dona Cida ficou feliz mais ainda, e para ser padre eu fui criado.
Todas as noites em casa tinha a reza do terço, e com uma toalha sobre os ombros eu fui ensinado a puxar o terço, ás vezes era ajoelhado encima de grãos de feijão ou de milho. Era dolorido.
Meu pai como todo nordestino era devoto de João e no dia 24 de junho dava uma grande festa, havia fartura de tudo o que se possa imaginar de comida para festa junina. Uma enorme fogueira acesa no terreiro, substituia a falta de luz. A sanfona abrilhantava a festa e Moisés corria de um lado para o outro da tijela de doce para a água gelada e para a fogueira. Fogo, doce e água resultaram numa enfermidade terrivel e com os meus seis aninhos apenas estava morrendo.
Chamaram o Padre José Maria Guimarães Alves, da Paróquia de São Benedito para me dar a extrema unção, o padre veio e rezou por mim e colocou sal na minha boca, e fez mais alguma coisa que não me lembro e foi embora. Dias depois parei de sangrar pelas narinas, pedi batata frita e comi, e aquele que já era um cadáver se levantou, um novo milagre aconteceu na minha vida e foi atribuida a São Benedito e lá vai o Moisés para a Irmandade de São Benedito.
Cruzada, coroinha, irmandade de São Benedito, São José Operário, missas em Latim e o sonho da minha mãe era a minha ida para o Convento dos Padres.
Conheci o Padre Estanislaw e o Padre Jair, e frequentava o convendo dos Padres de Branco.
Um dia dizendo que ia ao convento fui nadar no Rio Paraíba, e quando estava no meio do rio tive uma perna travada e afundei, boiei, afundei, gritava por socorro e ninguem me socorria. Mas como dizem as pessoas por sorte as águas me lançaram para fora do rio e mais uma vez escapei da morte.
A vida transcorria normal na minha vida, quando meu pai chegou apavorado em casa falando duma revolução e que as tropas estavam ali perto cavando trincheiras, e fui lá para ver, fiquei olhando o movimento dos soldados e achando bonito, não sabia o que estava preparado para mim.
Era 31 de março de 1964, estourara a revolução e tinha inicio o governo  militar.
Me sentia orgulhoso em levar água para os soldados nas trincheiras. Mas depois de alguns dias eles foram embora, "os gaúchos não vieram" foi o que fiquei sabendo.
15 de maio de 1967 misturado no meio de muitos jovens lá estava eu. Coração batendo forte, esperando para ver se o meu nome seria chamado. E por volta das 10 horas da manhã ultrapassei o Portão da Guarda, deixei de ser o futuro padre e passei a ser o conscrito 487 do 2º Pelotão de Engenharia de Combate, da 1ª Companhia de Engenharia de Combate, do 2º Batalhão de Engenharia de Combate, da 2ª Divisão de Exército, do II Exército.
Começava uma nova etapa na minha vida, de lutas, derrotas e vitórias.


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