15 abril 2010

"O SOLDADO TINHA RAZÃO"

Dia do meu aniversário, derrotado sai do quartel do 6º RI para me matar e acabei dentro duma igreja da Assembléia de Deus Ministério Madureira onde com minha irreverência ofendi a um oficial do Exército e apavorado não via a hora de sair daquele lugar. Sabia que no dia seguinte o oficial poria a tropa em forma e não teria nenhuma dificuldade em saber quem eu era, pois eu estava fardado e era o único militar daquela unidade que tinha no braço o emblema da "Cobra Fumando"



De longe se vê o emblema, pois chama muito a atenção. O culto transcorreu normal e mal terminou sai correndo para o quartel apavorado.
Sai para me matar, não o fiz, entrei numa "igreja de crente" e ofendi um "general"
Me escondi na sala de rádio telegrafia onde ficava também o meu alojamento. Lugar muito protegido, tinha sido construido de maneira de só ter acesso pela frente atravéz de uma ponte, onde dois soldados ficavam 24horas de plantão armados de fuzis.
Quando se está nervoso e preocupado não se consegue dormir, assim estava eu naquela noite. Meus pensamentos iam e vinham, me recordava do soldado na artilharia que cantava, e me recordava do general que chorava, e me perguntava:
"Quem é esse Jesus, que um soldado canta e um general chora?"
De madrugada, sentado na minha cama, com as luzes acessas, ouvi uma voz soar dentro da sala:
"TU TEME AO HOMEM E NÃO TEME A MIM?"
Fiquei mais assustado ainda e comecei a rezar e expulsar os demônios...
Abri a porta e esculhambei com os sentinelas alegando que eles estavam conversando...
Entrei novamente na sala, tranquei a porta, verifiquei as janelas...
"TU TEME AO HOMEM E NÃO TEME A MIM?"
Num momento de explosão eu gritei: O homem eu conheço e voce quem é?
"EU SOU JESUS, REI DOS REIS, GENERAL DOS GENERAIS, SENHOR DOS SENHORES, EM CUJA PRESENÇA TODOS OS JOELHOS SE DOBRARAM INCLUSIVE O TEU"
Eu falei: "Eu sou Moisés Moreira, soldado de primeira linha, morro em pé mas não vivo de joelho"
Calmamente Jesus dizia quem Ele era, e nervoso eu dizia quem eu pensava ser, até que exclamei: "E mesmo que eu quisesse dobrar os joelhos o meu joelho esquerdo não dobra porque é quebrado, quer ver?"
Naquela hora me lancei por terra e cai com os dois joelhos no chão.
Quando os meus joelhos se dobraram inclusive o joelho esquerdo que era quebrado, o meu estômago começou a se movimentar de uma maneira diferente e comecei a chorar, chorar, chorar, chorar... um hino sou naquela sala "Rude Cruz se erigiu dela o dia fugiu... Mas eu amo a mensagem da cruz, té morrer eu a vou proclamar..."
Me levantei, peguei papel coloquei na máquina e comecei a escrever todos os meus pecados cometidos, depois passei aquelas folhas na máquina de picotar, levei ao incinerador, queimei e dei descarga, a água levou a cinza embora. Hoje eu sei o que foi que aconteceu comigo naquela madrugada na sala de rádio, que hoje é uma igreja. Deus havia perdoado através de Jesus, todos os meus pecados e lançado no esquecimento.
Naquela madrugada, Jesus confirmou tudo o que a irmã Benedita me havia dito anos antes, e confirmava o que o soldado Washington me falou naquela noite na beira do tanque no quartel da 12ª Bateria de Canhões Antiaéreo 40mm. Eu havia conhecido Jesus no interior do 6º Regimento de Infantaria.
O soldado tinha razão?

O SENHOR PRECISA CONHECER JESUS!

"O SENHOR PRECISA CONHECER JESUS, QUANDO CONHECER JESUS A SUA VIDA MUDARÁ!"
Os anos se passaram, eu fui transferido da Engenharia para a Artilharia de Campanha, e depois para a Artilharia Antiaérea e acabei transferido para Taubaté e como tinha conhecimentos de construção e demolição fui designado para ser chefe da Turma de Obras na transformação da fazenda em quartel. Construi a estação de rádio, ajudei na construção do prédio da enfermaria, na construção do corpo da guarda, mas o que parecia progresso na verdade eu estava cada dia mais indo de mal a pior, espiritualmente, financeiramente etc, etc, etc...
Minha vida consistia em derrotas e mais derrotas.
Certa noite estava no alojamento, deitado em minha cama, pensando numa maneira de por fim àquela vida de lutas e derrotas, mataria minha família e me mataria e tudo ficaria bem. Os credores que vendessem minha casa e dividissem os dinheiro entre eles, o problema não seria mais meu.
Amanhã farei isso: "irei para casa, levarei carne, farei um guizado com batatas e colocarei veneno, morreremos todos juntos"
Estava pensando, quando o corneteiro fez soar o "toque do silêncio", pensei comigo que depois de amanhã aquele toque seria dado no cemitério quando o meu caixão descesse à sepultura.
Mas o silêncio foi quebrado pelo cântico de um soldado. Ele estava lavando as panelas e bandejas e cantando: "Porque Ele vive, posso crer no amanhã. Porque Ele vive temor não há..."
Irado levantei-me e fui ter com ele intimando a fechar a boca, chingando-o, quando ele me perguntou se poderia me dizer uma coisa. Disse a ele que sim desde que não abrisse mais a boca.
Foi quando ele me disse:
"O Senhor precisa conhecer Jesus, quando conhecer Jesus a tua vida mudará!"
Questionei com ele que eu conhecia Jesus, era filho da Virgem Maria e de São José, e que eu o tinha no meu ármario, mas ele me pediu desculpas e disse: "O Senhor só conhece a história de Jesus, quando o senhor conhecer Jesus a tua vida mudará"
Hoje eu compreendo porque foi que no dia seguinte eu não matei a minha família. Deus estava trabalhando na minha vida e eu não o sabia.
Os anos tornaram a passar, não matei a família, continuava endividado e para complicar mais a mulher ficou gravida e enfêrma e os pré-datados no mês de setembro já eram para o pagamento de dezembro. Ninguém me vendia mais nada fiado. E fui novamente mandado para mais longe de casa, morando em Pindamonhangaba, prestava serviço no 6º RI em Caçapava-SP, passava dias sem ir pra casa, e isso num ponto era bom pra mim pois não via as dificuldades da minha esposa em dar de comer para nossos filhos. O leiteiro com dó dela sempre lhe dava um pouco mais de leite. Os meus pais davam de comer para os netos.
Chegamos ao mês de outubro, era meu aniversário. Ninguem me deu os parabéns, pelas dificuldades financeiras nem a minha esposa. Não tive dúvidas, hoje eu me mato.
Tomei um banho, coloquei a farda de passeio, e sai do quartel com uma única finalidade: me matar.
Era domingo a tarde, comecei a ouvir musicas evangélicas num alto falante atráz da fábrica de chocolate, e caminhei para lá. Vou me matar dentro da igreja dos crentes, vai ser um reboliço hoje na igreja.
Quando lá cheguei a igreja estava fechada, e tudo desligado e fiquei ali parado como se tivesse vendo fantasma, como sai som dum autofalante desligado?
Não sei quanto tempo fiquei ali, mas não foi pouco. Começaram a chegar os fiéis e três homens se alegraram em me ver ali e me levaram para dentro. Um deles cabelos brancos se ajoelhou e começou a rezar a reza dos crentes e chorar. Não suportei ver aquele velho chorando e passei a maltratá-lo com palavras que não me atrevo a escrever aqui.
Um outro homem veio e chamou o "velho" para se assentar num lugar mais confortável, quando então uma moça se aproximou de mim e disse da alegria dela, dos irmãos e de Jesus eu estar ali, perguntou meu nome e se eu era crente. Disse a ela meia verdade, sim sou crente da Metodista. Ela anotou e me disse que ficasse à vontade na casa do Pai e que era maravilhoso ter com eles um general e um cabo.
Fiquei curioso em saber quem era o general, ela me apontou o "velho", meu sangue gelou naquele momento.
Sai para me matar, até aquele momento não o tinha feito e agora havia ofendido um "General"
Que seria de mim?
Que seria de mim?
Mas afinal quem é esse Jesus, que um soldado canta e um general chora?
"QUEM É ESSE JESUS, QUE UM SOLDADO CANTA E UM GENERAL CHORA?"

14 abril 2010

FESTA JUNINA - FESTA DE SÃO JOÃO

Meu pai, devoto de todos os santos que você possa pensar que exista, tinha como bom nordestino [cabra-macho] o seu santo protetor o João, que ainda faz parar o nordeste brasileiro no seu dia no mês de junho.
Meu pai ficava meses preparando a festa do João, prantava muita abóbora, batata doce, gengibre, mamão, e quando chegava o mês de junho começava os preparativos para a grande festa. No seu bosque de eucaliptos escolhia o mais reto e mais alto para ser o mastro, e cortava uns outros quantos necessários para a grande fogueira.
Em latas de 18 litros eram armazenados os doces. Próximo ao dia da festa acendia-se o forno "cupim" no terreiro e eram assados muitos tipos de bolos; seu Antonio gostava de impressionar os amigos demonstrando ter muita fé no santo.
Eu devia ter meus 8 a 9 anos, já tinha aprendido a ler, sob a tutela da "vara" e dos "tapas" do meu professor[meu pai] e da minha professora que tenho tendado lembrar o nome dela mas não consigo. Interessante que me lembro da escolinha na rua do Cardoso enfrente do Campo do Corinthians no Alto do Cardoso, mas o nome da professora não me vem à mente. Quem sabe recordando o meu passado consiga recuperar o nome dela.
Mas voltemos à festa.
Tudo pronto, fogueria acessa, levanta-se o mastro, meu pai solta fogos de artificios para atrair mais convidados, o padre reza o terço, benze o mastro, o sanfoneiro alegra o ambiente. O povo alegre, bebe quentão, come doce e prozeia. Como nordestinos não podia faltar a história do Rei do Cangaço, e meu pai gabava-se de ser filho de cangaceiro[talvez você agora possa entender porque ele é Leite e eu sou Moreira, ouve trocas de nomes, ele não era Leite, nem minha mãe Moreira] mas isso não vem ao caso agora.
Eu corria de um lado para o outro, bebia quentão, comia doce, bebia água e me esquentava na fogueira pois a noite estava fria. Quentão, bolo, doce, água, fogo... quentão, doce, bolo, água, fogo.
Fogo, água, doce, bolo, quentão e fogo...
Fiquei enfêrmo!
Foi gravíssima a minha enfermidade que foi necessário aos meu pais chamarem o padre para me dar a extrema unção, ou seja, me preparar para a morte.
Coube essa tarefa ao Padre José Maria. Chegou ao lado da minha cama, conversou um pouco comigo, e fez as suas rezas, me benzeu, e fez o que achava que deveria fazer para evitar que eu fôsse para o inferno, e foi embora.
Quando foi de noite eu pedi para minha mãe que queria comer batata fritas. Ela atendeu o último desejo do menino...
Mas os dias foram passando e fui melhorando, melhorando e chamaram o Padre de novo para ver o menino, e agora, o que fazer com ele?
A resposta do padre foi simples Deus tem plano na vida dele, pelo geito vai ser padre. É um milagre de São Benedito dizia o Padre, meu pai dizia que o milagre era de São João e minha mãe dizia ser de Nossa Senhora.
Todos eles estavam errados pois não sabiam que há um verdadeiro Deus criador dos céus e da terra, Senhor dos Senhores, e que já havia me escolhido para ser Seu desde o ventre da minha mãe. Meu destino estava traçado por Deus e ninguem morre antes que todo o propósito de Deus se concretize em sua vida.
Prezado leitor, se estás passando por alguma dificuldade nesta vida creia que só Jesus pode mudar a sua história e transformar sua derrota em vitória.

07 abril 2010

Sentindo que o meu tempo está passando, e que preciso deixar para a minha família um pouco da minha história, resolvi escrever este blog "Uma vida de lutas, derrotas e vitórias".

Peço aos leitores que tenham paciência comigo, pois procurarei expressar todo o meu sentimento como filho, esposo, pai e avô.

Terminada a 2ª Guerra Mundial, meu pai Cabo Leite foi desligado das fileiras do Exército e foi trabalhar na Estrada de Ferro Central do Brasil, e depois ingressou na Força Pública do Estado de São Paulo. Eram dias difíceis os anos pós guerra e meu pai arrendou umas terras em Pindamonhangaba para poder plantar e melhorar os seus rendimentos. Me lembro bem dessas terras, elas abrangem uma boa parte do Jd Bela Vista, onde hoje fica o Hospital Frei Galvão em Pindamonhangaba.

Ali cresci numa casa de pau-a-pique e na terra preta chamada "tufa" dei os meus primeiros passos.

Conheci um soldado do exército, quando meu pai vendeu abóbora madura para o batalhão e veio um caminhão [GMC] com alguns soldados buscar a mercadoria. Foi uma festa, ver aqueles homens fardados. Pensei comigo algum dia serei como um deles.

Minha história começa a ser interessante desde o meu nascimento ocorrido no dia 19 de outubro de 1948, na Santa Casa de Misericórdia de Pindamonhangaba. Nasci Morto!
Minha mãe Dona Cida [Maria Moreira da Silva], muito devota da santa de Aparecida do Norte adotara o apelido de "Dona Cida" muito católica e preocupado com a minha situação, pediu que as freiras dessem um geito e me batizassem pois não queria que o seu filho fôsse direto para o inferno por não estar batizado.
As freiras para fazer a vontade da minha mãe me levaram então para ser batizado e por decisão da minha mãe receberia o nome do santo do dia S Pedro de Alcantara.
Dizia a minha mãe que quando na Pia Batismal me jogaram água sobre a cabeça inerte eu dei um pulo e comecei a chorar. Foi um tremendo susto para todos que ali estavam e gritavam um milagre. Por decisão das freiras, meu nome foi mudado para Moisés [Salvo pelas águas] porque na Bíblia Sagrada existe a história de um Profeta que foi salvo pelas águas e recebeu esse nome.
Minha mãe dizia que se alegrou muito, pois o avô dela também tinha esse nome. E as freiras disseram para minha mãe que Deus tinha planos na minha vida e que eu seria padre, pois estando morto voltei a viver. Dona Cida ficou feliz mais ainda, e para ser padre eu fui criado.
Todas as noites em casa tinha a reza do terço, e com uma toalha sobre os ombros eu fui ensinado a puxar o terço, ás vezes era ajoelhado encima de grãos de feijão ou de milho. Era dolorido.
Meu pai como todo nordestino era devoto de João e no dia 24 de junho dava uma grande festa, havia fartura de tudo o que se possa imaginar de comida para festa junina. Uma enorme fogueira acesa no terreiro, substituia a falta de luz. A sanfona abrilhantava a festa e Moisés corria de um lado para o outro da tijela de doce para a água gelada e para a fogueira. Fogo, doce e água resultaram numa enfermidade terrivel e com os meus seis aninhos apenas estava morrendo.
Chamaram o Padre José Maria Guimarães Alves, da Paróquia de São Benedito para me dar a extrema unção, o padre veio e rezou por mim e colocou sal na minha boca, e fez mais alguma coisa que não me lembro e foi embora. Dias depois parei de sangrar pelas narinas, pedi batata frita e comi, e aquele que já era um cadáver se levantou, um novo milagre aconteceu na minha vida e foi atribuida a São Benedito e lá vai o Moisés para a Irmandade de São Benedito.
Cruzada, coroinha, irmandade de São Benedito, São José Operário, missas em Latim e o sonho da minha mãe era a minha ida para o Convento dos Padres.
Conheci o Padre Estanislaw e o Padre Jair, e frequentava o convendo dos Padres de Branco.
Um dia dizendo que ia ao convento fui nadar no Rio Paraíba, e quando estava no meio do rio tive uma perna travada e afundei, boiei, afundei, gritava por socorro e ninguem me socorria. Mas como dizem as pessoas por sorte as águas me lançaram para fora do rio e mais uma vez escapei da morte.
A vida transcorria normal na minha vida, quando meu pai chegou apavorado em casa falando duma revolução e que as tropas estavam ali perto cavando trincheiras, e fui lá para ver, fiquei olhando o movimento dos soldados e achando bonito, não sabia o que estava preparado para mim.
Era 31 de março de 1964, estourara a revolução e tinha inicio o governo  militar.
Me sentia orgulhoso em levar água para os soldados nas trincheiras. Mas depois de alguns dias eles foram embora, "os gaúchos não vieram" foi o que fiquei sabendo.
15 de maio de 1967 misturado no meio de muitos jovens lá estava eu. Coração batendo forte, esperando para ver se o meu nome seria chamado. E por volta das 10 horas da manhã ultrapassei o Portão da Guarda, deixei de ser o futuro padre e passei a ser o conscrito 487 do 2º Pelotão de Engenharia de Combate, da 1ª Companhia de Engenharia de Combate, do 2º Batalhão de Engenharia de Combate, da 2ª Divisão de Exército, do II Exército.
Começava uma nova etapa na minha vida, de lutas, derrotas e vitórias.