O Astro Rei, levantou-se cedo naquele verão maravilhoso. Passava das oito horas da manhã, quando me levantei, pois estava incumbido de uma missão de reconhecimento e captura se fôsse possível, na pacata cidade de Santo Antonio do Pinhal-SP.
Santo Antonio do Pinhal está situada num pequeno vale, enfiado dentro das montanhas da Serra da Mantiqueira[Serra que chora]. Já estivera ali muitas e muitas vezes pois meu padrinho, o Sr João Nunes era agricultor estabelecido às margens da estrada que liga Santo Antonio a Campos do Jordão. De clima frio, chegando os termômetros a marcarem abaixo de zero nos dias de inverno, é um lindo lugar para se passar umas férias e curtir um romance.
Eu tinha ali uma namorada, vivia por aquelas paragens e não havia outro militar no pelotão que pudesse por ali andar sem causar suspeitas. Era o homem indicado para aquela missão.
Passei aquela manhã de sábado nos preparativos, arrumei minhas coisas numa mochila. alimentos para uma semana. Levava ração R2/A1 e algumas frutas para comer no caminho pois viagem de trem variava de duas a muitas horas, dependendo das condições do tempo. Na falta de energia elétrica os trens ficavam parados pois eram movidos a eletricidade. Conhecia muito bem esse problemas e também os homens responsáveis pela manutenção. Minha juventude foi entre os trilhos como aluno do Núcleo de Ensino Ferroviário onde me formei em segundo lugar ficando atráz do Félix por meio ponto. Tínhamos por merecimento vaga garantida na "estradinha" Estrada de Ferro Campos do Jordão, mas o Félix foi para a Aluminio Insdústria S/A e eu me incorporei no Exército. Depois de muitos anos encontrei o Félix como gerente de uma loja de R$1,99.
Perto das 11 horas da manhã, caminhei lentamente para a velha estação de trem, peguei a requisição de passagem e me dirigi à bilheteria e depois para a plataforma de embarque. O Sol estava a pino pois ainda não existia horário de verão. O trem encostava de ré e lá vinha ele mansamente com suas rodas fazendo aquele ruido característico do atrito entre aços...Eís-me a espera do embarque...
Mansamente o maquinista vem trazendo o trem para a plataforma de embarque. O movimento era grande de pessoas de diversas camadas sociais que ali aguardavam o momento do embarque. O trem único meio de ligação entre Pindamonhangaba e Campos do Jordão possuia tres vagões: um de primeira classe e dois de segunda classe. O de primeira classe era o único que subia a serra, sendo que os outros dois vagões ficavam na estação do Piracuama localizada no pé da serra. Piracuama em Tupi Guaraní quer dizer: Rio de águas glaras ou limpas.
Piui...piui...piuuuiiiiii. o maquinista avisando a partida...piui...piui...
Meio dia em ponto, embarcavámos, quando deparei com um amigo que também embarcava ao lado de sua linda namorada. Veio ao meu encontro muito radiante em poder lhe apresentar a sua belíssima namorada. Era de causar inveja... Loira, descendente direta de alemães, seus cabelos loiros esvoaçavam ao sabor do vento como uma bandeira desflaldada após um duro combate. Muito linda.
Meus olhos ficaram estonteados. Realmente meu amigo tinha uma namorada muito linda, e detalhe importante sem nenhuma pintura artificial.
Como não havia passagens numeradas, sentamo-nos um defronte ao outro, tinhamos muito que conversar depois de tanto tempo sem nos vermos, além do que olhar para aquele belo rosto me interessava muito mais do que olhar a paisagem da serra tão familiar para quem subia e descia a serra quase todos os fins de semana.
Posicionei o meu banco de maneira que ficasse frente a frente com eles e iniciamos um diálogo que eu procurava não interromper. Vez ou outra mirava o interior daqueles olhos azuis e dizia comigo mesmo "Eís a mulher dos meus sonhos". Eles estavam indo para um encontro de jovens crentes da Igreja Metodista em Campos do Jordão. Eu indo para Santo Antonio do Pinhal, na metade do caminho forçosamente eu desembarcaria em Eugênio Lefreve, quando a tornarei a ver? perguntava a mim mesmo.
Mas ali estavam eles me convidando para dar uma escapadinha e ir até eles, pois seria muito bem recebido...
Desembarquei em Eugênio Lefreve, com o coração ardendo de tornar a vela. Sabia que estava cometendo um pecado mortal desejando a mulher do próximo, mas ela não está casada ainda, me justificava... Tomei o ônibus que fazia a ligação entre a estação de trem e o munícipio pensando que nada me impediria de viajar amanhã até Campos do Jordão. Eu estava caido pela loíra...
Domingo 10 de janeiro de 1971. Eís-me embarcando na jardineira que me leva a estação de trem, aguardei o trem chegar, havia vagas, embarquei com destino a Campos do Jordão.
Como farei para encontrá-la em Campos do Jordão?
Minha aparência não era das melhores, barba por fazer, cabelos despenteados. olhar cansado de quem passou a noite sem dormir. Com passos inseguros, não sabendo o que seria dali pra frente vou caminhando pelas ruas examinando o interior das lojas pois sabia que todos que vão a Campos procuram trazer uma lembrança para os amigos e famíliares dessa linda cidade.
Viva!!! Lá estão, naquela loja... Encontrei-os fazendo compras.
____"Oi pessoal eís-me aqui!!!"
____"Que bom que você veio!" me disseram. Me levaram então para almoçar com eles na casa de uma das irmãs daquela cidade. A bondoza senhora me recebeu sem me conhecer. Tinha feito um "cuscuz" que estava uma delícia e olhando para a neta, uma linda menina, dizia que aquele cuscuz dava sorte, quem comia dele logo arrumaria um bom casamento. Coitada daquela senhora, estava dando dicas para que a sua neta arrumasse um noivo ali, e o único presente que não tinha compromisso era este pobre infeliz que estava de olho na loira.
Dali seguimos para a Igreja, onde no final da tarde teve um lanche e entrega de lembrancinhas do "Amigo Secreto"
Como não tinha amigo secreto, fiquei no canto me divertindo com a festa que eles faziam... quando a loira a bela "Tony" como a chamavam se levantou, se aproximou de mim e disse:
____"Sabendo eu, que você viria e não tinha amigo secreto, te trouxe esta lembrancinha"
Abri o embrulhinho. Examinei, [fiz um supense, o silêncio foi geral] então falei em alto e bom tom para que todos ouvissem:
_____"Com esta caneta, assinarei a nossa Certidão de Casamento"
Embaraço geral. Todos ficaram atônitos com tamanho atrevimento. O meu amigo quase morreu de susto. Como brigar comigo, ele sabia que eu andava armado com uma pistola .45 e que sabia atirar bem...
Ainda bem que estava na hora do meu trem, sai de fininho e fui embora. Perdi um amigo pensava comigo mas essa mulher será minha...
E no dia 14 de julho de 1973 no Templo da Igreja Metodista em Guaratinguetá-SP se deu tal fato, assinei nossa certidão de casamento e estamos casados até hoje para a Glória de Deus...
Casados para sempre.
Casados para sempre.
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